A temporada de estreia do Universal Studios Florida, em 1990, foi um desastre. As três principais atrações do parque – Kongfrontation, Earthquake: The Big One e Jaws – sofriam com problemas técnicos por meses. Os visitantes ficaram furiosos, e os gerentes foram obrigados a promover um grande número de reembolsos e distribuir ingressos gratuitos de retorno.
Previsões ambiciosas de comparecimento do público foram por água abaixo, e as metas de receita não foram alcançadas por ampla margem. Enquanto isso, a rival Disney assistia os visitantes se divertindo em seu próprio parque com tema de Hollywood, o Disney-MGM Studios (inaugurado um ano antes), que rapidamente provou ser um sucesso comercial.
O dano à reputação do Universal Studios Florida foi imenso. Felizmente, assim como nos filmes de desastres que a Universal era famosa por produzir, o resgate estava a caminho. Doc Brown estava chegando à cidade – e ele estava trazendo sua máquina do tempo em forma de DeLorean com ele.
Back to the Future: The Ride foi inaugurada em 1991, e provou ser exatamente a atração de grande sucesso que o Universal Studios precisava para recuperar o terreno perdido no ano anterior. Ao longo dos próximos 16 anos, ela divertiu milhões de visitantes, levando-os em uma emocionante aventura através do tempo que a maioria nunca vai esquecer.
Peter Alexander, ex-Imagineer da Disney e colega de quarto de Steven Spielberg na universidade, estava trabalhando no boneco para a atração de King Kong no Universal Hollywood. Spielberg (que estava envolvido no planejamento do Universal Studios Florida) chegou sem avisar e Alexander se ofereceu para mostrar-lhe Kong em ação. O diretor ficou impressionado e disse: “Vocês são muito bons nisso. Meu amigo George Lucas [diretor de Star Wars] me disse que só a Disney poderia fazer isso. Ele me levou ao Star Tours e disse: ‘Você bobeou em se juntar à Universal. Eles nunca poderiam fazer um Star Tours'”. Na mente de Spielberg, ele já estava imaginando o que a equipe criativa da Universal poderia fazer com uma outra franquia de ficção científica, a série De Volta para o Futuro.
Em março de 1987, a MCA anunciou que o diretor de Tubarão, ET – O Extra-Terrestre e uma série de outros sucessos tinha assinado contrato como um “consultor criativo” do Universal Studios Florida. Com George Lucas trabalhando em atrações para Disney, os amigos de longa data, parceiros na série Indiana Jones, agora estavam competindo um com o outro.
O acordo que Spielberg fez com a Universal foi extremamente lucrativo para o diretor. De acordo com executivos com conhecimento do acordo, sob os termos do contrato Spielberg iria recolher 2% das receitas brutas da Universal Studios Florida (incluindo ingressos e licenciamentos), em perpetuidade, de tal forma que gerações futuras de Spielberg também partilham o rendimento.
A abertura do Universal Studios Florida foi atrasada em muito tempo. Houve especulações na imprensa que atrações do parque não estariam prontas a tempo para o seu dia da inauguração. Os boatos foram negados pela diretoria, que insistiu que apenas uma atração com simulador de US$40 milhões baseada em De Volta para o Futuro foi programada para abrir mais tarde, no início de 1991.
As coisas começaram a dar errado antes mesmo dos primeiros visitantes chegaram para a grande inauguração, em 7 de junho de 1990. Poucas horas antes de Spielberg cortar a fita, uma queda de energia derrubou o software que gerenciava os efeitos especiais de Earthquake: The Big One.
As coisas não melhoraram com os visitantes dentro do parque. O software que gerenciava a interação entre King Kong e o bonde com suas vítimas ainda não estava funcionando adequadamente, e os técnicos foram obrigados a realizar os movimentos da enorme criatura manualmente.
Enquanto Kongfrontation e Earthquake estavam sofrendo, Jaws se saía ainda pior. A atração operou esporadicamente por apenas duas horas, antes que as trovoadas à tarde obrigassem seu fechamento para o resto do dia. Spielberg e sua família estariam entre os que ficaram presos na atração.
Visitantes descontentes invadiram o departamento de relações com o cliente do parque. Mais de mil pessoas receberam reembolso em dinheiro ou ingressos gratuitos para uma nova visita. No dia seguinte, a Universal foi obrigada a oferecer algo semelhante: todo mundo que comprou ingresso receberia automaticamente um ingresso grátis para uma futura visita.
Apesar do otimismo da Universal as coisas não melhoraram. No mês de julho, um dos meses mais movimentados dos parques temáticos, Kongfrontation e Earthquake ainda estavam fechados, sem previsão de abertura até o final do mês. A frequência de visitantes era desastrosa e até o final de agosto, 250 funcionários ficaram desempregados.
Back to the Future: The Ride seria a resposta da Universal para Star Tours. Spielberg, que foi produtor executivo da trilogia em que ela se basearia, havia desafiado a equipe criativa da Universal para superar a criação da Disney.
Spielberg sentiu que Back to the Future, que conta a história das viagens de Marty McFly (Michael J. Fox) em uma máquina do tempo inventada por seu amigo doutor Emmett Brown (Christopher Lloyd), proporcionaria a inspiração perfeita para uma atração de parque temático. “Ela tem as mais interativas oportunidades imagináveis. Nós de fato colocamos as pessoas em um DeLorean, e as enviamos para 25 anos no futuro e incontáveis anos no passado. Era uma atração natural, eu pensei”.
A Universal iria além dos limites da tecnologia em atrações para alcançar a visão de Spielberg. A atração seria semelhante ao Star Tours: um voo simulado através de um universo fictício. No entanto, a filosofia da Universal era que a atração seria a mais complicada e tecnologicamente avançada já tentada.
O enredo da atração giraria em torno do roubo da máquina do tempo de Doc Brown pelo vilão do filme Biff Tannen. Os visitantes ajudariam Doc Brown embarcando em outra máquina do tempo e perseguindo Biff pelo passado. A fila acabaria no Institute of Future Technology, com os visitantes reunidos em grupos antes de assistir a um pré-show curto durante o qual Doc Brown explicaria que em uma viagem no tempo de volta a 1955, o jovem Biff tinha usado indevidamente o DeLorean. Ele estava agora à solta, e isso não era nada bom. Christopher Lloyd e Thomas F. Wilson (que interpretou Biff nos filmes) reprisaram seus papéis, com Biff sequestrando a máquina do tempo.
Depois de ver o pré-show, os visitantes entrariam em pequenas salas onde embarcariam em réplicas do DeLorean. O motor seria acionado e, em seguida, uma névoa fria iria envolvê-los enquanto voassem para Hill Valley por volta de 2015 no rastro de Biff. Em suas viagens, eles passariam por uma era do gelo e pelo período cretáceo (com erupções de lava e dinossauros) antes de finalmente alcançar Biff e levando-o “de volta para o futuro”.
O enredo intencionalmente evitou a maioria dos cenários vistos nos filmes, como a versão de 1955 de Hill Valley ou a cidade do velho oeste que foi o foco do De Volta para o Futuro: Parte III. “Em vez de voltar para o velho oeste e encontrar coisas já vistas, nós quisemos proporcionar algumas experiências mais emocionantes, mais emocionais”, explicou Terry Winnick, que atuou também como produtor de Back to the Future: The Ride . “O que é mais assustador, mais ameaçador, mais emocionante, do que encontrar um dinossauro?”
Antes de fazer as filmagens necessárias para a atração, a equipe de produção construiu um modelo em miniatura dos locais exóticos. Os edifícios eram réplicas em torno de um metro de altura, permitindo um alto nível de detalhe, e o Tiranossauro Rex de uma das principais cenas tinha mais de dois metros de altura. Como a tecnologia de computação gráfica ainda não tinha um grande papel na produção do filme, o modelo foi usado nas filmagens da maioria das cenas vistas na atração. Técnicas de animação stop-motion foram usadas para criar os efeitos especiais.
Filmado em 70 milímetros, o filme de quatro minutos seria projetado em uma enorme tela Omnimax em forma de cúpula que teria quase 25 metros de diâmetro. Os veículos DeLorean da atração poderiam levar oito pessoas cada. Depois de embarcadas, elas seria erguidas para a frente da tela, a quase 3 metros de altura, por um enorme elevador. Uma vez lá, a tela poderia cercá-las completamente, com a Universal prometendo que a única maneira de evitar a imagem seria fechando os olhos. Isso contrastava com o Star Tours, onde os visitantes viam o mundo exterior através de uma janela relativamente pequena na frente de sua “nave espacial”.
“Por causa da curvatura e da qualidade das imagens do filme, você começa a perceber que é 3-D”, prometeu Winnick. Mais de 300 alto-falantes irriam proporcionar o áudio da atração, tocando 11 trilhas sonoras diferentes simultaneamente. Os visitantes entrariam nos veículos em salas separadas, para dar a impressão de que eles estavam em simuladores individuais. Na realidade, no entanto, os 12 carros seriam dispostos na frente da tela. Havia duas telas idênticas no edifício, acomodando 24 carros no total.
Os veículos DeLorean ficavam em plataformas hidraulicamente ativadas, permitindo-lhes lançamentos e guinadas em sincronia com o filme para criar a sensação de voar. Cada um foi posicionado de forma ligeiramente diferente para proporcionar a melhor visão possível da tela, o que significa que a atração era um pouco diferente, dependendo de qual veículo os visitantes estavam. Era possível olhar para a esquerda ou para a direita e ver outros visitantes em veículos DeLorean, potencialmente estragando o efeito imersivo, mas a maioria nunca percebeu isso, ao contrário, assumia que tinham a tela só para eles.
Como nenhum simulador tinha sido construído nesta escala antes, a Universal estava preocupada com o impacto que isso teria sobre os visitantes. “Nós pensamos que com certeza teríamos um monte de pessoas vomitando na atração”, disse Rich Costales, vice-presidente de operações e entretenimento do parque. Isso não aconteceu, mas por sugestão de um médico foram instalados bebedouros nas saídas depois que descobriu-se que os visitantes estavam saindo com muita sede.
Back to the Future: The Ride exigiria mais empregados do que qualquer outra atração no Universal Studios: 35 pessoas estariam em atividade o tempo todo (como comparação, Kongfrontation tinha apenas 18), realizando tarefas como o gerenciamento de filas, verificação de cintos de segurança e observando monitores. A equipe poderia ver os visitantes nos veículos a partir de uma passarela a uma altura equivalente a sete andares, e alguém nesta posição poderia parar a atração em qualquer ponto se alguém tentasse sair ou ficar em pé. Com toda a tecnologia sofisticada, a atração era iniciada com o simples apertar de um botão.
A Universal esperava com Back to the Future: The Ride, reverter a percepção negativa do parque causada por seus primeiros problemas. A Universal não queria correr riscos, e declarou que a atração não estaria pronta para a abertura até 2 de maio de 1991. Para evitar problemas, a atração começou a operar em janeiro, mas manteve-se em “ensaio técnico” por três meses, fazendo mais de 600.000 viajantes do tempo durante esse período.
No grande dia, a estrela do filme, Michael J. Fox, estava lá para experimentar atração, assim como Mary Steenburgen, que fez o papel de Clara no último filme. Ambos ficaram impressionados. Fox, que iria completar 30 anos em junho, comentou: “Eu gosto da ideia de ter a minha própria atração. Minha própria atração. – que eu posso usar sempre que eu quiser”.
Na cerimônia de abertura repleta de estrelas, a atração funcionou sem falhas, proporcionando uma estreia perfeita para a Universal e levando analistas a prever que o parque iria proporcionar mais uma ameaça competitiva para a Disney. O próprio Fox resumiu o clima predominante: “Eu não estou sendo pago para isso. Este é a melhor atração. É inacreditável”.
Após o sucesso do lançamento de Back to the Future: The Ride, a Universal foi otimista sobre suas perspectivas para 1991. “Acho que teremos um verão arrasador”, disse o gerente geral Tom Williams. Analistas concordaram. “A Universal será muito mais competitiva do que no verão passado”, ponderou Alan Gould, da Dean Witter Reynolds Inc., uma corretora de Nova York. “Parece que a Disney vai ter que vir com novas atrações criativas”.
O sucesso da Universal foi aparentemente às custas de seu grande rival. Em março de 1992, o Wall Street Journal informou que o parque tinha ultrapassado o Disney-MGM Studios em frequência de público por centenas de milhares de clientes em 1991. Grande parte do sucesso que foi em função de Back to the Future: The Ride.
Back to the Future: The Ride continuou a ser uma atração popular na Universal Studios Florida por muitos anos. Mas com o envelhecimento da franquia e da atração seus dias foram contados. A atração operou com a metade de capacidade nos primeiros três meses de 2007, com uma de suas duas enormes telas Omnimax sendo fechada. A atração foi então fechada abruptamente por completo em 30 de março. Os boatos começaram a circular imediatamente em torno de Os Simpsons, confirmados em seguida.
A conversão de Back to the Future: The Ride em The Simpsons Ride levou um pouco mais de um ano, com a substituição fazendo sua estreia oficial em 15 de maio de 2008. Os movimentos dos veículos foram atenuaddos para oferecer uma condução mais suave, mas a experiência ficou em grande parte intocada. Uma representação de Doc Brown está em uma das sequências de vídeo pré-show, pedindo dinheiro emprestado para salvar o Institute of Future Technology.
*Com informações de Theme Park Tourist e Theme Park Thrills